sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

[Poesia Japonesa] "Animal Barulhento", por Osaki Sayaka

Poesia escrita por Osaki Sayaka
Publicado originalmente em: World Without Borders (Edição de março de 2012)

Animal barulhento

Nota da Autora
A Linguagem é o primeiro desastre que a humanidade experimenta. A linguagem é a violência que, nós, como pessoas continuamos a experimentar todos os dias. Nós experimentamos este desastre e, ainda bebês, começamos a falar, incapazes de ficarmos quietos. Eles reproduzem as palavras de alguém justamente como elas são, reproduzindo da forma da experiência de alguém com o desastre. Como resultado, eu não sei onde “este desastre” se inicia, e nem onde ele termina.

Animal barulhento

Não acredito em palavras.
Não acredito em “céu azul”
Não acredito em “Terra Brilhante”
Não acredito na “luz da esperança”
Eu sou um animal barulhento.
Eu sou um animal que caminha prestes a falar interminavelmente
Eu não sou capaz de falar apenas sobre o que eu tenho visto
Você não é capaz de falar apenas sobre o que você tem visto.

Palavras mentem, e palavras tendem a alucinar.
Palavras tendem a ir em direção à covardia.
Palavras são apenas ideias, grandiosas, entretanto incapazes de fazer algo.
Palavras não possuem nenhum poder.
Palavras não podem fazer uma única coisa.
É por isso que eu não acredito em palavras

Animais barulhentos podem ver a separação da Pangeia há duzentos milhões de anos atrás
Animais barulhentos podem ver as fracas chamas em uma caverna birmanesa há dez mil anos atrás.
Animais barulhentos podem ver as sujeiras os rios sobre toda a Edo há quatrocentos anos atrás.
Animais barulhentos podem ver o inconveniente amor de Sugiyama Chiyo há sessenta anos atrás.
Animais barulhentos podem ver os anjos de Klee por entre as nuvens sobre Tokyo.
Animais barulhentos podem ver o Castelo de Kafka nos vales da Planície de Musashino.

Não acredite em palavras.
Não acredite nas palavras dos políticos.
Não acredite na multidão de protestantes.
Não acredite nas palavras dos doentes.
Não acredite nas palavras de seus professores.
Não acredite nas palavras das mulheres.
Não acredite nas palavras dos guerreiros.
Não acredite nas palavras das celebridades.
Não acredite nas palavras dos trabalhadores.
Não acredite nas minhas palavras.

Todos no mundo têm sofrido o desastre.
Todos no mundo têm contraído a enfermidade.
Todos no mundo têm se adoecido com os sintomas.
Todos no mundo têm sido infectados.

Não acredite em palavras.

Animais barulhentos estão espalhados por todas as cidades.
Nós necessitamos de dinheiro para a moradia.
Nós necessitamos de dinheiro para comer.
Nós necessitamos de dinheiro para luz e calor.

Nós precisamos de música.
Nós precisamos pensar.
Nós precisamos de palavras.
Sem elas, nossos corpos se rompem.
E nós adoecemos de febre.

Mas não acredite na Medicina.
Não acredite nos meios espirituais.
Não acredite nos cantores.
Não acredite no Capitalismo.
Não acredite no Cristianismo.
Não acredite nos cidadãos do mundo.
Não acredite no amor e na coragem.
Não tampe seus ouvidos

Eu sou um animal barulhento.
Eu sou um animal que se livrou do sotaque de sua cidade natal.
O Mocha causa essa imensa dor!
Eu sou um animal barulhento.
E eu serei um animal barulhento até eu morrer.

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