terça-feira, 23 de janeiro de 2018

[A Tale of Two Phoenixes] Capítulo 9 – Mantendo a calma em todas as situações.

Apesar do fato de que adquiriu alguma informação básica em suas conversas com You Lan se conteve em perguntar demais, para evitar levantar suspeitas.
Além disso, You Lan disse a ela que que esse é apenas o mundo sob o ponto de vista de uma garota empregada. Para descobrir como a situação realmente se parecia, ela necessitava determinar por si mesma.
Entre as inúmeras pessoas que estavam no banquete, houveram duas que Chuyu se manteve de olho. Um sentou-se no lugar menos proeminente, à sua esquerda. Este jovem era um pouco mais velho que Rong Zhi com cerca de 21 ou 22 anos de idade. Ele era magro e bonito, mas desde que havia chegado ao quintal, ele estava com baixo astral e solitário. Sua expressão e sua maneira de agir se encaixavam mal no jardim de primavera. Sob o céu azul e as nuvens brancas, havia somente uma pequena área de escuridão e sombras, motivo pelo qual era chamativo.
Até mesmo quando Chuyu disse que ia dispensar os privilégios de Rong Zhi, ele nem sequer a olhou, nem sequer uma olhadela, como se olhar para Chuyu manchasse seus olhos.
Depois que Chuyu o disse, havia prestado atenção em sua atitude. Efetivamente, o jovem extremamente deprimido teve uma reação. Olhou para Chuyu com uma expressão atônita e um tanto desdenhosa e indignada, mas reprimiu suas emoções e nada disse. A frieza brilhou em seus olhos. Depois, virou ao outro lado novamente.
Entretanto, dentre todas as pessoas, o mais impressionante para Chuyu, foi Rong Zhi. Quando Chuyu disse que dispensaria os privilégios de Rong Zhi, Rong Zhi estava levantando uma xícara para beber. Ouvindo as palavras de Chuyu, não houve absolutamente nenhum resquício de emoção ou pausa na ação: simplesmente bebeu um pouco de vinho com elegância, colocou a xícara suavemente, e lentamente virou-se em direção a Chuyu, sorrindo:
― Sim.
Alguns estavam indignados com ele, alguns regozijaram perante ele. Mas ele parecia completamente inconsciente disso. Não, espera, estava consciente. Isso não lhe importava. Aquela calmaria era quase uma luxuosa elegância, graciosa como HeShibi [1]: Teria sido uma sorte se não pudesse presenciá-lo, porque o que não se pode desejar simplesmente aparece.
Como se qualquer caos ou desordem, quando se apresentava diante dele, fosse ordenado e organizado.
Depois de examinar cuidadosamente a reação de todos, Chuyu sorriu ligeiramente:
― Eu estava brincando. Não levem a sério.
Antes de decifrar os antecedentes e a identidade de Rong Zhi, não faria grandes mudanças. As palavras que havia acabado de dizer eram apenas para investigar. As reações da multidão não decepcionaram as expectativas de Chuyu, exceto por Rong Zhi.
Esse jovem era como um livro interessante. A cada página virada se revelaria uma nova informação. Até agora, Chuyu ainda não podia dizer quantas páginas tinha esse livro. Escutando Chuyu dizer isso, a pedra no coração de Liu havia sido levantada. Estava contente por ter sido salvado e ponderou em seu coração se deveria ser amável com Rong Zhi para que não guardasse rancor dele. Em contrapartida, a decepção apareceu nas delicadas sobrancelhas de Mo Xiang. Rong Zhi continuava sendo suave e calmo com as nuvens brancas flutuando no céu. Sob as árvores floridas o jovem com a roupa branca como a neve sorriu novamente e respondeu:
― Sim.
Se supunha que era um banquete, mas Chuyu estava ocupada examinando as pessoas, motivo pelo qual não comeu quase nada. Mesmo se a comida entrou em sua boca, ela não a provou. Ela falava esporadicamente para analisar as reações da multidão, e utilizou suas reações para julgá-los.
Como Chuyu comias distraidamente, a maioria dos cortesãos tampouco estavam em paz. Alguns tentavam adivinhar o que a Princesa estrava tramando e, inclusive, comiam menos que Chuyu. Depois de não a ver por alguns dias, a mudança da Princesa foi muito grande. Ainda que não houvesse diferença em sua aparência, sua expressão havia se transformado. Sob o rosto engenhosamente elegante da jovem sentada no assento mais proeminente, não haviam seus habituais sorrisos meio-turvos. Agora sorria com pouca frequência e superficialmente, mas também com decisão. Os olhares de seus olhos, claros como a água aterrissavam em cada um deles como se quisesse penetrá-los.
Era como se tivesse se transformado em uma pessoa totalmente diferente.
Não é que Chuyu não soubesse da confusão do grupo, mas isso não lhe importava. Desde que descobriu sua identidade e posição com You Lan, se sentiu à vontade. Enquanto mantivesse cuidado e evitasse provas, o que aconteceria se alguém suspeitasse dela? Quem poderia capturar a evidência de não ser a verdadeira Liu Chuyu? Quem se atreveria a questioná-la, sendo uma Princesa de tão alto status? E se ela quisesse mudar, quem seria qualificado para interferir?
Ademais, no último segundo, ela ainda teria a “carta” da amnésia, que podia utilizá-la. Ao longo da história e entre países, 90% das personagens principais de light novels sobre viagem no tempo e possessão de corpos fingiam ter amnésia. Mas, no caso de Chuyu, ela só faria isso se não tivesse outra alternativa.
Usar a amnésia para fingir inocência, dependendo dos outros para perceber seus arredores, ser comandada por outros e ser incapaz de controlar-se em momentos de problemas, não era o estilo de Chuyu.
Entretanto, Chuyu tinha alguma confiança no poder despótico da Princesa de Shanyin. Em todo esse palácio não deveria haver ninguém que ousasse questioná-la. Exceto por Rong Zhi.
Este jovem era a pessoa com a qual Chuyu estava mais preocupada no momento.
Segundo o que Chuyu tinha planejado pela primeira vez, todos os cortesões teriam sido dispensados imediatamente. Claro, os belos jovens eram agradáveis à vista, mas, depois de tudo, ela era a Princesa de Shanyin. Ela não tinha esse tipo de necessidade, de forma que era melhor não arruinar o futuro desses belos rapazes. Através de sua observação, Chuyu descobriu que Rong Zhi ,tinha um lugar especial no coração da Princesa de Shanyin e em relação aos outros cortesões. Além do maisa identidade e seus antecedentes eram um mistério: ele não parecia forçado a se tornar um cortesão como também sua atitude perante Chuyu nunca era bajuladora. Ele até mesmo gozava de sua completa liberdade no Palácio ainda que nunca fosse arrogante ou prepotente
Talvez apenas a verdade Princesa de Shanyin soubesse que Rong Zhi era. Ele olhava como se não quisesse nada. Por isso, Chuyu sentiu que ele era insondável.
O banquete terminou depois de uma hora. Chuyu declarou o banquete como encerrado, porém, uma vez que não se moveu, como poderia alguém sair antes da Princesa? Dessa forma, houve uma situação incômoda na qual todos se sentaram silenciosamente em seus assentos e olhavam uns aos outros.
Chuyu falou:
― Quero ficar aqui um pouco mais. Todos vocês podem ir embora.
Mesmo depois dessas palavras, ninguém se moveu. A princípio, Chuyu não sabia o porquê, mas ao pensar nisso, compreendeu. A Princesa de Shanyin provavelmente tinha um histórico ruim, utilizando0se de métodos similares para enganá-los, motivo pelo qual agora essas pessoas eram muito cuidadosas.
Enquanto tentava encontrar uma maneira de persuadir, alguém deu risada. Chuyu levantou a vista e viu que era Rong Zhi. Rong ergueu a xícara, a levantou em direção a Chuyu e bebeu todo o conteúdo. Logo, se levantou e foi embora.
Seguindo Rong Zhi, o jovem que desprezava Chuyu também deixou o local. Com alguém tomando a iniciativa, as pessoas seguiram. Não muito depois, a maior parte do banquete estava vazio. Contudo, dois jovens ao lado de Chuyu não foram embora. Um suplicantemente e o outro de modo coquete, olhavam para Chuyu
Chuyu estava sem ajuda e distraída. Claro que esses dois jovens estavam disputando por favoritismo. Contudo, para o asar deles, ela não era a Princesa de Shanyin de forma que não podia resolver esse tipo de coisas. Não tendo outra opção, ela abriu a boca para espantá-los:
― Vocês também deveriam ir embora. Quero ficar um tempo sozinha.
Mo Xiang e Liu Se se entreolharam, lançaram olhares de hostilidade e saudaram a Chuyu. Só então foram embora, o tempo too dando voltas. As duas fileiras de assentos estavam vazias. Apesar do fato de que realmente não desfrutou o banquete, a solidão posterior e a dispersão das pessoas ainda faziam com que Chuyu sentisse uma sensação de perda.
O Palácio da Princesa era rico e luxuoso, permitindo que a recém-chegada Chuyu experimentasse tudo sem piedade alguma. Todavia, todas as roupas decoradas e a deliciosa comida não podiam preencher o vazio no seu peito. Ao vir aqui, pagou todo o preço de perder a sua vida anterior. Ainda que era a Princesa e desfrutava do luxo, isso não significava que ela era mais feliz ou mais livre do que quando vivia nos tempos modernos.
Porém, Chuyu não se queixou. Ela não se compadeceu de si mesma.
Depois de clarear seus pensamentos, ela destinou o seu olhar em direção ao caminho adiante.
Em seu sangue, fluía a dureza da vida, do tipo que se aflora ejm qualquer situação, inclusive nesse obscurantismo há mais de mil anos atrás. Isso era capaz de fazer florescer as mais maravilhosas flores.
 Isso era um tipo de calmaria, uma elegância originada de sua alma. Não tinha nada a ver com os prazeres físicos, nada a ver com sua identidade ou posição, nada a ver com as coisas desse mundo, nem nada a ver com o tempo.
Chuyu secou as sobrancelhas e foi em direção ao kyorin. Seu olhar atravessou os ramos das flores e as pétalas brancas, alcançando o céu azul e as nuvens cremosas, distantes e claras.
Haverá um dia em que voaria livremente

Notas:

[1] HeShibi: (和氏璧, or 和氏美玉), uma famosa peça de jade considerada como uma preciosidade e um tesouro no mundo. 


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